sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Meu apoio à Mata Santa Genebra - por Cabeto Rocker

Meu nome é Cabeto Rocker, sou músico e produtor cultural.
Vivo e trabalho em Campinas desde 1987.

Estou ausente da cidade desde abril do ano passado, por conta de um trabalho junto com minha esposa, Maria Castellano, aqui em Brasília, com retorno previsto para 2010. Estamos na área Ambiental/Cultural.
Conheci Campinas em 1984, quando vinha a passeio e para tocar com meus amigos do grupo musical BANDO. .
Lembro-me que uma das coisas que me fizeram trocar o Rio de Janeiro por uma cidade do interior de São Paulo foi a riqueza e preservação que havia na cidade mãe dessa atual região metropolitana.
Ao longo dos anos fui acompanhando as "abocanhadas" que o verde campineiro foi levando da especulação imobiliária não sustentável. Sei que isso é um fenômeno no mundo inteiro. Mesmo com milhares e milhares de imóveis sem conseguir sua venda ou locação, por causa de seus valores ou por suas condições de mercado, cada vez mais se constrói casas, condomínios e shopping centers. Não aparece nenhum programa de "sustentabilidade imobiliária". Essa devastação impensada, na maioria dos casos, se dá para atender os desejos incitados pelo "compre o novo", "venha morar bem" etcs do gênero. Entendam: não sou contra o progresso em nenhuma instância, sou contra esse modelo insano e absurdo de só se enxergar os "lucros", sem se encarar de frente a problemática: "precisamos disso? Isso é certo de ser feito?, É ambientalmente sustentável?"

É claro que sempre vão aparecer aquelas pessoas "letradas, estudadas e entendidas" nos assuntos da natureza, mas que na verdade estão ao serviço da cegueira do deus mercado e vão dizer que sim, podemos derrubar aquela área verde ali para construirmos mais algum "empreendimento" e que não haverá problema algum ambiental. Claro, nunca haverá problema algum para pessoas que não querem enxergar a realidade atual. É só acompanhar o quanto estamos asfaltando e cimentando o Planeta e teremos o quadro do quanto estamos ofendendo a natureza e, consequentemente, à nós mesmos. Isso é visível. Isso não dá para esconder atrás de out doors com propaganda de "seja feliz comprando, comprando". Cara ilusão. Homocêntrica visão. Cara visão imediatista e egoísta. Sim, as pessoas vendem as "terras", as "propriedades" como se nada estivesse acontecendo. Como se tudo o que nos cerca estivesse aqui biblicamente para nos servir. Ledo engano de interpretação conveniente. Essas pessoas não enxergam o organismo vivo onde vivem e onde habitam seus corpos também vivos. Poderíamos fazê-las entender se, por exemplo, começássemos a decepar um membro do corpo de uma pessoa a cada 5 anos. A experiência daria a real dimensão do que é ser privado de movimentos e sensações. Depois de 20, 30 anos, como viveria essa pessoa, contando com apenas seu tronco?

No caso da Mata Santa Genebra, eu entendo aquela área como uma "doação antecipada" de um órgão para um paciente (a cidade) que ainda não estava tão adoecido assim, mas que agora necessita dessa doação e desse órgão funcionando muito bem. É um presente sem igual. É uma doação de vida, no sentido amplo do significado dessa palavra.
Claro que haverá muitas "pessoas de bem" e defensoras do "deus estilo de vida" dando as mais mirabolantes explicações para que "se diminua um pouquinho", "se avance um pouquinho", "se pegue só um pouquinho" da mata, para esse ou aquele "interesse" da "comunidade". Ah, e para que isso aconteça, sempre haverá quem se ampare em "alguma lei" cegamente e diga aos quatro cantos dos ouvidos dos "interessados- interesseiros", que, "alguém cale a boca desses ambientalistas que são contra o progresso" de nossa cidade. Já vimos no que deu esse "progresso humano". Antes tínhamos o desconto de não sabermos muito bem o que fazíamos. Agora não há mais desculpas. Temos dados, temos história, temos relatórios e, principalmente, estamos todos aqui, vivendo essas mudanças climáticas e sociais. A mídia não ajuda muito: sempre dá as notícias da forma "a natureza castigou" tal região, o "clima" está isso ou aquilo, sem realmente separar o que é "natural" e o que tem um "dedinho" do homem.

O mundo está dividido em pessoas que querem mudar seus hábitos culturais adquiridos e tentar literalmente "mudar o mundo", a partir das novas descobertas e das novas possibilidades de sustentabilidade real, estudada e comprovada. E temos aquelas pessoas que não querem pensar o sustentável, o inteligente e sensato nesses tempos que exigem mudanças radicais. Essas pessoas não ligam para o futuro do Planeta e seus habitantes (todos os seres vivos) e acreditam que sempre alguém irá resolver os problemas do mundo, num passe de mágica, sem que elas tenham que mexer um dedo, ou repensarem seus hábitos culturais. Ou pensarem em ganhar um pouco menos.

Não podemos nos tornar escravos dos números e escravizar pela sedução que os números causam nas pessoas. Leia-se: "olhem para mim, admirem tudo o que eu tenho, vejam como eu sou poderoso e rico". Que tipo de riqueza é essa que poderá causar o desequilíbrio da vida e bem estar das futuras gerações?

A Mata Santa Genebra, assim como outras áreas verdes do Planeta merecem atenção, carinho e proteção. Elas estão vivas, assim como nós. Nós dependemos dessas áreas verdes para sobreviver. Elas dependem de nós para sobreviver e nos dar condições de prosseguirmos nossas vidas e a vida de nossos semelhantes que ainda nem nasceram.

Está difícil de entender o que eu estou falando? Espero que não.

Acredito ainda numa educação "natural-integral" baseada nos ensinamentos dos nossos povos das matas, de nossos índios, de nossos quilombolas e de nossos cientistas modernos da linha sustentável. Estranho chamar esses povos de "atrasados, incultos e selvagens". Estranho barrar os cientistas que trazem informações corretas sobre nossos perigosos "hábitos industrializados". Hoje em dia eu morro de vergonha de nossas sociedades: nós somos os selvagens aqui. É só dar uma boa olhada ao nosso redor e ver como estamos vivendo. Somos felizes vivendo na aridez do concreto e no meio do lixo? Que sociedade é essa que faz alguns seres humanos e outras formas de vida viverem como objetos descartáveis? Que modelo de sociedade é essa que torna alguns seres vivos desse Planeta "massa de sustentação irracional de péssimos hábitos culturais"?

Vivemos com medo de nossos semelhantes. Causamos medo às outras formas de vida. Tem algo muito errado, não?

VIVA A MATA SANTA GENEBRA! VIVA TODAS AS MATAS!

Cabeto Rocker Pacolato

Um comentário:

ATEFAR disse...

Um texto que alerta muito bem a invasão nas florestas.
Achei bárbaro quando cita que a Mata Atlântica de Santa Genebra foi doada para um paciente... Realmente a cidade é um paciente enfermo e as árvores seriam a cura.
Também sou defensora ambiental, sou mais uma voz solitária.
Continuem escrevendo textos esclarecedores como este.
Ah! meu blog também fala de meio ambiente, me faça uma visitinha.
Abraço,
Nice.