Prezados, Enviio-lhes reportagem sobre a Mata Santa Genebra do Jornal Integração - Campinas, SPEdição 358 - 20/01/2009http://www.jintegracao.com/ Errata: Raquel Gouvêa não é professora da Unicamp, mas de duas faculdades privadas.É aluna do doutorado e pesquisadora na Faculdade de Educação da Unicamp.
A luta contra a apatia políticaRaquel Gouvêa e seu engajamento pela preservação da Mata Santa Genebra
A área envoltória à Mata Santa Genebra vem despertando o interesse de empreendimentos imobiliários e causando a preocupação de pessoas, como a professora e pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Raquel Valente de Gouvêa, quanto à preservação de recursos naturais. À frente da mobilização popular SOS Mata Santa Genebra desde 2007, Gouvêa em pouco tempo expandiu seus parceiros para além do município. Em julho desse mesmo ano, ela entregou uma petição ao prefeito de Campinas com 4.180 assinaturas e o apoio direto de 36 entidades ambientais e culturais do estado de São Paulo pedindo garantias quanto à manutenção de uma área de proteção de 300 metros no entorno da reserva. Em 2008, decisões ambíguas do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (CONDEPACC) e o Ministério Público Federal (MPF) tendo de intervir sobre a demora na elaboração do Plano de Manejo da Mata, tornaram a rotina de defensora ambiental de Gouvêa agitada. Entre manifestações e reuniões, ela diz que a mobilização SOS Mata Santa Genebra "existirá enquanto a reserva estiver em situação de risco". Nessa entrevista para o Jornal Integração, Gouvêa relata os perigos para a reserva e o que se pode esperar do poder público em relação ao meio-ambiente para 2009.
JI - O ano de 2008 foi marcado por bastante polêmica envolvendo a Mata Santa Genebra, como diminuição da área envoltório do Bem Natural D e a decisão do final de 2008 do MPF de impetrar uma ação contra novos empreendimentos imobiliários no entorno da mata. Para 2009, com o apoio do procurador da república, os defensores da reserva terão boas notícias?
Gouvêa - Certamente a ação do promotor Paulo Roberto Galvão do MPF é uma boa notícia não apenas para nós, mas para toda a cidade de Campinas, afinal a Mata é o maior patrimônio ambiental da região e uma das maiores áreas de mata nativa (Atlântica) do Brasil. A demanda ambiental é muito grande em nosso município e nossos gestores agem como se a natureza não fosse finita, desrespeitando e agredindo o meio ambiente, maquiando suas intenções predatórias com slogans verdes do tipo "desenvolvimento sustentável", quando na verdade é impossível qualquer idéia de sustentabilidade ambiental dentro da lógica da expansão desordenada da cidade e do consumo crescente. Não sabemos como será o ano de 2009, mas estamos otimistas, pois agora temos certeza de que a mobilização da sociedade foi ouvida e que existe algum rigor nesta história.
JI - A área envoltória da mata em 2008 despertou muito interesse do mercado imobiliário. Em sua opinião, o avanço da cidade para mais perto da reserva é um processo irreversível?
Gouvêa - O interesse na envoltória da reserva, mas também dos Bens Naturais anexos (D e C) não é algo novo. O mercado imobiliário cada vez mais investe na lucrativa idéia dos empreendimentos "verdes", localizados próximos às áreas ambientalmente frágeis. Fazem barganhas com pessoas influentes a fim de viabilizarem seus objetivos e, infelizmente a população também participa deste esquema, comprando esses imóveis sem critério. A cidade cresce incessantemente e esse tem sido o slogan de nossos gestores: desenvolvimento acelerado, entretanto, a falta de planejamento, o descontrole e a ignorância tem levado Campinas ao esgotamento. Não basta copiar bons exemplos, é preciso entender profundamente o que significa desenvolver dentro do paradigma ambiental, ou seja, ordenar o crescimento da cidade preservando e ampliando todas as áreas naturais. Irreversível mesmo é o dano ambiental gerado por décadas e décadas de omissão e descaso.
JI - O plano de manejo da mata está atrasado, segundo o calendário da lei 9.985 do ano 2000 que trata das Unidades de Conservação (UC) federais, a que senhora credita esse atraso e em que isso pode ser prejudicial para a preservação do local?
Gouvêa - O Plano de Manejo está atrasado cinco anos. O Manejo interfere nos anseios daqueles que pretendem lucrar nas proximidades da reserva, pois ordena, entre outras coisas, tudo que pode e que não pode existir no seu entorno, por isso a demora em realizá-lo. Mas a falta do Plano de Manejo da Mata Santa Genebra também cria obstáculos para outros projetos desta gestão, como por exemplo, o conturbado Parque Ciatec II. É claro que a falta do Plano, além de ser um descumprimento da legislação, fragiliza a proteção da Mata. A falta de um plano de manejo efetivamente exeqüível quase possibilitou a alteração do tombamento da envoltória da reserva, mas felizmente a sociedade mobilizada impediu essa barbárie.
JI - A senhora faz parte da Mobilização Popular SOS Mata Santa Genebra. O ano de 2008 foi de muita movimentação por parte dela. Quais são os objetivos para o ano de 2009?
Gouvêa - Nossos objetivos continuam os mesmos: fazer todo o possível para garantir a proteção integral deste patrimônio ambiental, ou seja, da Mata principal, seus dois anexos e toda a envoltória do complexo, com o mínimo de 300 metros de distância de qualquer atividade que venha a ser realizada ali. Esperamos que com a mudança na presidência da Fundação José Pedro de Oliveira, as ações necessárias à proteção e também à expansão dos fragmentos sejam efetivamente desenvolvidas.
JI - Como a senhora avalia a gestão do atual prefeito, Dr. Hélio, em relação ao Meio ambiente?
Gouvêa - Até o presente momento, minha avaliação não é positiva. O Prefeito, embora se mostre sensível à causa ambiental, não realizou nada de efetivamente positivo neste setor. Acredito que existam muitos entraves para que Campinas desponte como uma cidade ecologicamente planejada. Para que o discurso "verde" se transforme em atitude consciente e construtiva, é fundamental que o Prefeito se associe a pessoas qualificadas para levar avante esse projeto, mas até o momento não houve essa escolha, mostrando à população que o Meio Ambiente ainda não é uma prioridade.
JI - Em sua opinião, como é ser uma ativista do meio ambiente em Campinas? A senhora acha que faltam mais iniciativas visando a proteção ambiental por grupos de pessoas engajadas em Campinas?
Gouvêa - Ser ativista é não permitir que a apatia política tome conta de nossas vidas; é participar da maneira que for possível das coisas de interesse coletivo e potencializar nossas habilidades para o bem comum. Isso é fácil, mas necessita de consciência e de atitude. A causa ambiental é uma demanda urgente que coloca em igualdade todas as pessoas, independente da classe social. Trata-se da sobrevivência do Planeta e isso diz respeito a todos nós. O movimento ambientalista em Campinas é muito forte e representa uma das poucas manifestações de resistência aos desmandos dos gestores públicos e às ações predatórias e irresponsáveis de parte da iniciativa privada. A presença dos ambientalistas atualmente é fundamental para que consigamos reverter o panorama de devastação das cidades brasileiras.